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quinta-feira, 14 de junho de 2012

A religião se contrapõe à proposta de Jesus.


Acho curioso como, tão escandalosamente, a religião se contrapõe à proposta de Jesus. Enquanto o Evangelho se propõe a pacificar o coração dos homens, a religião promove o seu distanciamento; um sugere a transformação da consciência, a outra uma mudança comportamental; um trata do perdão dos pecados, a outra da realização de obras meritórias; um chama as pessoas a reconciliação com o Criador, a outra tenta convencer o Criador a aceitar as criaturas.

Não é a toa que muitos filósofos e pensadores, olhando para a história da civilização humana, mantiveram diante da religião um olhar crítico, cético e por vezes, cínico. Heinrich Heine, escritor e poeta alemão, num tom sarcástico, afirmou certa vez: “bem-vinda seja uma religião que derrama no amargo cálice da sofredora espécie humana algumas doces, soníferas gotas de ópio espiritual...” Marx, pai do socialismo científico, não economizou “tinta”, e vociferou à seu tempo: “a religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração. É o ópio do povo”. Hegel, um dos mais respeitados filósofos, pai do idealismo absoluto, apesar de ter estudado no seminário protestante de Württemberg, era outro que via a religião como alienação da essência humana.

Friedrich Engels, um dos criadores da teoria do materialismo histórico e dialético, no século XIX, fez uma avaliação bastante lúcida sobre a religião cristã ao longo do tempo. Ele afirmava que, primeiramente, a cristandade foi uma religião dos pobres, dos desterrados, dos condenados e oprimidos. Todavia, não demorou muito para, no século III, se estabelecer como ideologia estatal do Império Romano. Em seguida, já na idade média, alinhou-se perfeitamente com a hierarquia feudal européia e, logo depois, a partir da revolução industrial, já na modernidade, amalgamou-se a sociedade burguesa.

Eu penso que uma das coisas mais imprescindíveis nestes tempos difíceis que vivemos é manter um olhar analítico e crítico a respeito de nossa própria história. Nosso objetivo deve ser repensar que papel nos cabe no mundo que vivemos, na sociedade na qual estamos inseridos, com vistas a materializarmos, com ações concretas, as propostas que possam vir a ressignificar o que afirmamos ser a fé em Jesus Cristo.

Contudo e, tristemente, o que tenho visto, cada vez mais, é o entorpecimento, a alienação, a “massa manipulada”, a “teologia” do comodismo que sacrifica sobre o altar da conveniência, a substituição da singularidade da unidade pela burrificação da unanimidade. Vejo os cristãos preocupados com a vida eterna, “labutando” em busca de garantir o futuro, sonhando com o galardão prometido, enquanto a humanidade se esvazia por completo de qualquer possibilidade de encontrar na existência significados, e a Terra agoniza pela exploração de seus recursos cada vez mais escassos.

Olho as igrejas lotadas de gente, não raro, vazia, egoísta, vivendo uma espiritualidade adoecida, que olha para si mesmo, mas não é capaz de perceber o próximo. Os cristãos estão enredados com movimentos, programas, seminários, shows, cultos, atividades que são justificadas pela velha máxima: evangelizar os perdidos! Você dificilmente encontrará essa gente em passeatas que reivindiquem questões sociais importantes, ou engajadas em ONG´s e outras organizações que lutem por direitos dos menos favorecidos, ou participando de projetos que viabilizem o desenvolvimento sustentável do planeta. Não, o “negócio” dos “crentes” é buscar o sobrenatural! Deixa que o natural se acabe, se desmantele, se extinga...   

Eu cresci ouvindo chavões do tipo: “crente não se envolve com política”; “a Terra está sendo “entesourada” para o fogo eterno”; “temos de cuidar dos da família da fé”. Por isso os políticos evangélicos são os mais corruptos do Congresso Nacional, a Terra está sofrendo com "dores de parto", levada a superar todos os seus limites, e os que não fazem parte de nossa “confraria” agonizam pelas ruas, nas cracolândias da vida, nas sarjetas da existência, nos hospitais, nos presídios, nas favelas. Só de pensar tenho calafrios... "Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes". Mt. 25:41-43

Nossa religião é “espiritualidade” de ocasião, com choro de encenação e contrição de momento. Tiago, em sua epístola, escrevendo para os judeus da dispersão, gente ainda impregnada pela “religião de Israel”, afirmou que essa religiosidade calcada sobre a fé, mas que não possui boas obras, para nada aproveita. Parafraseando o apóstolo, poderia perguntar: “mostra-me onde estais, com a tua fé, e eu, com o meu engajamento em questões prementes da humanidade, te mostrarei a minha!”.

Gramsci, filósofo e cientista político italiano do século XIX, analisando na sociedade contemporânea a cultura religiosa, concluiu que ela é “a utopia mais gigante, a mais metafísica que a história jamais conheceu, desde que é a tentativa mais grandiosa de reconciliar, em forma mitológica, as reais contradições da vida histórica”. Em outras palavras, a religião é artigo de luxo, serve apenas para “anestesiar a alma”, mas tem pouca ou nenhuma utilidade para o espírito dos homens.

Enquanto a “igreja” continuar alienada entre quatro paredes, embevecida com suas próprias obras, pensando na vida no além, o mundo padecerá com “cólicas” sociais, milhões morrerão de fome, de frio, de sede, de maus tratos, gente que não poderá ser “evangelizada” porque estará enterrada numa cova rasa! Sim, enquanto ficamos apenas “orando” e “louvando” ao “senhor”, os rios estão sendo poluídos, as matas devastadas, o ar contaminado, os animais extintos, a camada de ozônio destruída. “Aleluia irmãos!”...

Com a ajuda que estamos dando ao “diabo”, ele nem precisa se ocupar em fazer o que Jesus afirmou: “matar, roubar e destruir”. Pode tirar férias e ir para Boca Raton! Minha oração nestes dias é ver menos gente “entulhada” dentro da “igreja”, ou seja, aqueles que não fazem nada, não tem compromisso com nada, e mais gente em sindicatos, OSCIP´s, organizações de direitos humanos, gente que se interesse pelo que seu candidato evangélico está fazendo, gente que vá as ruas, que proteste contra tudo o que ferir a dignidade humana, que seja “Elias” em nosso tempo, profetas que denunciem a injustiça e a maldade, e não aspirantes de feiticeiros, adivinhando o futuro dos outros.

Se eu creio na vida eterna? Claro que sim! Se eu a espero? De todo o coração! Se estou na expectativa da volta de Jesus? Oxalá fosse hoje! Mas até que tudo isso se torne realidade para mim, tenho muito o que fazer aqui na Terra pois, parafraseando Paulo, ainda não completei a carreira para poder guardar a fé e receber a minha coroa, a qual o Justo Juiz me dará naquele dia! Sim, afirmo com toda autoridade: quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz a Igreja!


Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/#ixzz1xndhNBa7
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As corajosas mulheres da genealogia de Jesus


Confesso que sempre achei muito cansativo e monótono ler os capítulos da Bíblia que contêm genealogias. Aquelas listas intermináveis de nomes, informando quem gerou quem e, raras vezes, “quem pariu quem”. Imagino que muitas pessoas possam ler essas genealogias em busca de algum nome para colocar em uma criança que vai nascer. Mas, se as genealogias estão lá é porque devem ter alguma função. Geralmente se diz que elas têm uma função legitimadora, ou seja, elas buscam legitimar o status social, étnico ou de nobreza de uma pessoa, mostrando que ela descende de ancestrais nobres, ilustres ou pertencentes a uma determinada etnia. As genealogias também mostram que a vida de cada pessoa está inserida dentro de um grande contexto familiar e que tem toda uma história que a determina.
Uma das genealogias que mais chama atenção é a de Jesus. Os evangelistas Mateus e Lucas, que escrevem sobre os ancestrais de Jesus,  trazem genealogias distintas. Enquanto Lucas segue a estrutura patrilinear e cita apenas os homens; Mateus, embora também siga a mesma estrutura, inclui o nome de cinco mulheres, o que configura algo incomum.  E que mulheres! Tamar, Raab, Rute, Betsabéia e, naturalmente, Maria. Com exceção de Maria, todas essas mulheres são estrangeiras. Além disso, para muitas pessoas, essas mulheres tiveram um comportamento questionável. Afinal, Tamar se vestiu de prostituta e enganou o sogro para com ele ter filhos; Raab é designada expressamente de prostituta; Davi forçou Betsabéia a ter um caso extraconjugal com ele e a engravidou;  Rute elaborou, juntamente com a sogra, um plano para reaver seus direitos; e Maria... bem, Maria ficou grávida e o pai da criança não era seu noivo! Que antepassados!!    

Mas por que essas mulheres estão na genealogia de Jesus?

Mateus deve ter tido suas razões para introduzir o seu evangelho justamente com essa genealogia. À primeira vista, pode-se afirmar que Mateus tinha duas intenções: em primeiro lugar, ele quer mostrar que, como descendente de Abraão (Mt 1,1), Jesus pertencia ao povo de Israel. Em segundo lugar, como descendente de Davi (Mt 1,6), ele também era o Messias esperado.

E as mulheres? O que elas nos querem revelar? As mulheres não podem ter tido a função de, como mães, garantir a origem judaica da descendência, ou seja: judeu é o nascido de mãe judia, pois das mulheres da genealogia pelo menos três são estrangeiras. Talvez uma rápida olhada na vida dessas mulheres possa nos esclarecer o porquê da sua presença na genealogia de Jesus.

 Tamar: Chega de decidirem por ela!

Encontramos a história de Tamar em Gênesis 38. Ela era uma mulher arameia que se casou com Her, o filho mais velho de Judá. Como o esposo morreu sem deixar filhos, ela deveria, de acordo com a lei do levirato (Dt 25), casar com Onã, o irmão mais velho do marido falecido. Mas este derramava, na hora do orgasmo, o sêmen na terra, pois sabia que, se gerasse um filho em Tamar, a criança seria considerada filho de seu irmão falecido, constituindo-se, portanto, em um herdeiro a mais. Também Onã morre. Conforme a lei, agora o terceiro irmão, Sela, deveria desposar Tamar para continuar a descendência do marido falecido. Mas Judá, com medo de perder mais um filho, devolve Tamar para o pai dela.
Tempos depois, ao saber que Judá voltaria a passar pela sua aldeia para tosquiar ovelhas, Tamar elabora um plano para garantir seus direitos e os de seu falecido marido. Ela se disfarça e vai ao encontro de Judá que, pensando tratar-se de uma prostituta, aceita deitar-se com ela. Porém Tamar sabe com quem está lidando; ela precisa precaver-se. Por isso, quando Judá promete pagar os seus serviços com um cabrito, ela lhe pede como penhor o selo, o cordão e o cajado do sogro. Ao enviar o cabrito como pagamento, os homens de Judá não encontraram mais a mulher.
Três meses depois, ao ser informado da gravidez de Tamar, o patriarca Judá exige que ela seja queimada. Pois, conforme a lei, mesmo tendo sido devolvida ao pai, Tamar não podia relacionar-se com outro homem que não da família de seu falecido marido. Mas Tamar se havia precavido e revela que o pai da criança era o dono do selo, do cajado  e do cordão. Assim, o fato não se configurava como adultério ou traição. A Judá não restou outra alternativa a não ser reconhecer Farés e Zara, os gêmeos que nasceram daquela gravidez, como filhos de Her.
A atitude de Tamar revela uma mulher corajosa e paciente, que soube lutar contra o descaso e a violência estrutural a que as viúvas eram submetidas na sociedade israelita. Cansada de submeter-se às decisões que outros tomavam sobre a sua vida, ela soube esperar o momento certo para tomar as suas próprias decisões e fazer cumprir a lei.

Raab - a mulher que fez a opção de se aliar à luta pela conquista da terra.

Além de estar presente na genealogia de Jesus, Raab  também aparece, juntamente com Sara, em Hebreus 11, como exemplo de heroína da fé. Raab e Sara são as únicas mulheres mencionadas nessa relação do livro de Hebreus.
Como ainda acontece hoje, na época, a prostituição era exercida por mulheres que precisavam ganhar o seu sustento. Em geral, a sociedade aceitava essa profissão. A profissão não era regulada por códigos legais ou morais. Às vezes, prostitutas dividiam uma mesma moradia. Além disso, era comum que prostitutas também oferecessem serviço de hotelaria. Compreende-se, então, por que os espias de Israel buscaram pouso na casa de Raab, em Jericó (Js 2,2).
Além disso, o texto afirma que a casa estava construída na muralha da cidade e possuía um terraço, a partir do qual se podia observar bem a movimentação dos que entravam e saíam da cidade. Em nenhum momento se diz que Raab foi obrigada a ajudar os espias; ela faz a opção de ajudá-los. Não só os escondeu, mas também arriscou sua vida ao mentir para o rei dizendo não saber onde os homens haviam ido. Raab adere, portanto, ao projeto israelita de tomar a terra, confessa que Javé é o mais poderoso dos deuses e pede proteção para a sua família. O cordão escarlate torna-se o símbolo do acordo entre Raab e os espias israelitas; é ele que vai proteger a família dela por ocasião da invasão. Esse símbolo lembra o sangue do cordeiro pintado nas portas dos israelitas, que protegeu, no Egito, o povo de Israel da morte. Graças à sua independência, Raab pôde ajudar os israelitas a concretizar o projeto de conquista da terra.  

Rute - a sabedoria de mulheres para defender a vida dos pobres.

A moabita Rute teve um papel tão importante na história de Israel que, mesmo sendo estrangeira, recebeu um livro com seu nome. Mulher, estrangeira, viúva e pobre - essa era Rute. A sua história começa em Moabe, um país vizinho de Israel, onde vivia e onde se casou com um israelita, que, juntamente com o pai, a mãe e um irmão, imigrara para aquelas terras por causa de estiagem e fome na pátria. Mas a morte bateu na porta daquela família e todos os homens morreram, deixando três viúvas, pobres e sem herdeiros. Noemi retorna, então, a Belém e leva consigo a sua nora Rute. Inicia aí uma história de grande sabedoria e perspicácia, na qual duas mulheres sozinhas vão ser obrigadas a lutar para ter seus direitos respeitados. Sem ter como garantir o sustento, já que os homens da “pequena família” estavam mortos, Rute vai juntar os restos da colheita nas terras de um agricultor de posses, parente de seu falecido marido. Conforme a lei da respiga (Lv 19,9-10; Dt 24,19), os pobres, estrangeiros, órfãos e as viúvas tinham o direito de colher das espigas que caíssem na ceifa. Rute cabia em três dessas categorias de pessoas: estrangeira, viúva e pobre.
Ao tomar conhecimento de que a estrangeira que respigava em seu campo era parente, o dono da terra, Booz, lhe dá permissão para respigar com liberdade e ficar junto com suas servas. Ao ficar sabendo que Boaz era parente de seu marido, Noemi começa a articular um plano para que Rute seja resgatada. De acordo com a lei do levirato (Dt 25,5-10), o parente mais próximo do marido falecido de Rute deveria, como no caso de Tamar, casar com a viúva e com ela gerar descendência para o falecido. Além disso, caso nascesse um filho desse relacionamento, a viúva teria novamente direito aos bens imóveis do falecido marido.
Instruída por Noemi, Rute toma banho, se perfuma e vai deitar-se onde Booz está e com ele passa a noite. Na manhã seguinte, ela revela a Booz que ele tem sobre ela o direito de resgate. Booz juntou, então, testemunhas e procurou um parente ainda mais próximo do falecido marido de Rute para saber se tinha interesse em cumprir a lei do resgate da viúva. Como esse parente não tinha interesse ou vontade para cumprir a lei, o próprio Booz assumiu a tarefa e se casou com Rute por quem já havia mostrado claro interesse, quem sabe ultrapassando o simples “cumprimento do dever”.  Rute foi, então, recebida pelo povo da cidade de Belém como as matriarcas Raquel e Lia (Rt 4,11). Com Booz teve um filho, Obede (“o que serve”), que viria a ser o avô de Davi.

Betsabeia - a mulher violentada pelo rei

Betsabeia não é mencionada, na genealogia de Mateus, pelo seu nome, mas como “esposa do hitita Urias”. É a única mulher da genealogia que viveu no âmbito da corte; mas nem por isto deixou de sofrer com a prepotência real. Sua história é contada em 2 Sm 11, onde se narra como ela foi vítima da falta de escrúpulos de Davi, que, possuído por desejo e cobiça, a violentou e engravidou enquanto seu marido estava na batalha defendendo Israel. Após saber da gravidez de Betsabeia, Davi articulou a execução de Urias na frente de batalha. Denunciado por Natã, que não o perdoou por esse ato criminoso, Davi mandou buscar Betsabeia para que viesse morar no palácio. Ela perdeu o primeiro filho, mas depois deu à luz  Salomão, o sucessor de Davi. Até o nascimento de Salomão, Betsabeia quase não fala. Anos mais tarde, no entanto, para defender o direito de Salomão ao trono, ela se une ao profeta Natã e cobra de Davi o cumprimento da promessa que este lhe havia feito: de que o filho dela seria o seu sucessor (1 Rs 1,11-31). Foi assim que a mulher violentada pelo rei, obrigada a prantear o marido morto em batalha e a mudar-se para o palácio real para tornar-se uma das esposas de Davi, transformou-se na mãe do segundo rei mais famoso de Israel.

Maria - a mulher que deu o seu sim ao projeto de Deus.

Provavelmente a única mulher não estrangeira da genealogia de Mateus tenha sido Maria. Ela provavelmente era de NazaréMuito jovem, foi escolhida para ser mãe de Jesus. Na genealogia, o verbo está na voz passiva: “de Maria foi gerado” (Mt 1,16). Conforme o relato do evangelista Lucas, Maria inicialmente se assustou ao receber a notícia do anjo, mas depois entoou um canto de alegria (Lc 1,26-33.47-55).  Esse cântico, também conhecido como Magnificat, mostra que ela era uma  humilde camponesa, proveniente de uma aldeia sem importância. Surpresa, alegria e coragem são sentimentos que transparecem no Magnificat.  Mesmo correndo o risco de ser apedrejada como adúltera –  já que engravidara antes do casamento – Maria aceita o desafio de ser a mãe do Messias. Este, sim, lhe traria muitas dificuldades. Primeiro o noivo cogitou em abandoná-la. Imagina ter a noiva grávida! Mas foi convencido a também aderir ao projeto de Deus. Depois, já próximo do tempo de dar à luz, precisou viajar até Belém, pois precisava acompanhar o esposo que para lá tinha que ir por causa do recenseamento romano. Era uma viagem de longos dias de caminhada. Como se não bastasse o desconforto da longa viagem, ao chegar em Belém não encontrou lugar para pousar e descansar. Pariu seu filho em um estábulo. Claro que, para Maria, uma mulher simples, passar por desconfortos era algo natural. Mas parir um filho longe de casa e ainda em um estábulo era coisa bem diferente. Ao dizer sim, Maria assume passar a vida toda acompanhando o ministério de Jesus. Seu sim a fez segui-lo até a morte na cruz.

Voltamos à pergunta inicial: por que essas mulheres estão na genealogia de Jesus no Evangelho de Mateus?

Através da genealogia de Jesus, Mateus chama à memória toda a história de Israel desde Abraão, que é também considerado o pai dos prosélitos, passando por Davi e o exílio babilônico. Mostra, assim, a humanidade de Jesus: ele foi verdadeiramente homem. O fato de as mulheres serem quase todas estrangeiras pode querer mostrar que a comunidade de Mateus vai contra toda a postura de pureza de raça presente no grupo que mandou matar Jesus. Ao incluir essas mulheres na genealogia, a comunidade de Mateus deixa clara a sua opção: estrangeiros devem ser acolhidos na comunidade. As mulheres não judias dão, assim, um tom universal à genealogia. Através da sua inclusão, Mateus revela seu objetivo: o Messias traz salvação a todas as pessoas, sejam de procedência judaica ou não. Mateus foge do sistema segregacionista presente na ideologia da sinagoga e mostra que muitas foram as pessoas não judaicas que aderiram ao projeto de Deus. As histórias dessas mulheres também revelam sofrimento, luta, superação, sabedoria e resistência.  Essas “mulheres de má fama” que se tornaram heroínas da fé nos inspiram em muitos momentos das nossas vidas; através de suas vidas, nos ensinam que, na história da salvação, há lugar e espaço para todas as pessoas de “boa vontade”.


Revda Sônia Mota- Pastora da IPU

terça-feira, 12 de junho de 2012

Para mim, TODA felicidade do MUNDO!



Amar é bom, quando a gente ama a gente se respeita.


PARA VIDA TODA.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

BURACOS NEGROS, FÍSICA QUÂNTICA E TEOLOGIA




    A ciência e a teologia mantêm um relacionamento delicado desde a época de Galileu e Copérnico. Em alguns aspectos o cristianismo não conseguiu se recuperar por completo da revolução cosmológica que retirou a humanidade do centro do universo e a confinou a uma posição insignificante. Talvez seja em decorrência desta postura de resistência aos avanços científicos, que poucos pensadores cristãos da atualidade parecem beneficiar-se com o notável desenvolvimento da física moderna. À sua maneira, Einstein, Bohr e mais recentemente Hawkins empreenderam uma revolução tão espetacular quanto a de Copérnico, embora em direções novas, chocantes para muitos.

    Para começar, não apenas a humanidade, mas cada indivíduo, homem ou mulher, recuperou, através da física moderna, sua posição de figura central na história do universo. Na física de Newton, os indivíduos não ocupam um lugar especial no universo, exceto como participantes ocasionais no fenômeno estabelecido de causa e efeito. Mas alguns cientistas do século XX defendem que a própria realidade da ocorrência de um evento depende da existência de um observador.

    O leigo rapidamente perde o entusiasmo no Reino Encantado da relatividade e da física quântica. Alguém nos ensina que nossa poltrona favorita é formada por grandes espaços vazios preenchidos por alguns átomos que giram a toda velocidade. Ainda assim nós a vemos como um objeto sólido e assentamo-nos nela. Aprendemos que o tempo varia, dependendo da força da gravidade e do movimento, e que um astronauta que parta para o espaço poderá retornar à Terra trinta e seis anos mais novo que o seu irmão gêmeo que aqui permaneceu. Parece melhor deixar de lado este mundo estonteante da física moderna, com suas equações tão longas que vão de uma ponta à outra do quadro-negro e com seus termos amedrontadores como antimatéria, espuma quântica e buraco-negro. Pensando bem, é melhor depender do bom e velho Newton.

    Mas os cristãos não devem voltar as costas à física moderna com tanta facilidade, porque muitos de seus princípios sobre a natureza do tempo e do espaço foram provados por físicos e cientistas empreendedores. Além disso, estas descobertas notáveis apresentam novos caminhos para a compreensão de algumas doutrinas teológicas mais complicadas.

    Pensemos em uma destas doutrinas: Deus não está preso ao tempo. Os cristãos vêm repetindo, há muitos e muitos anos que "Aos olhos de Deus mil anos são como um dia" (2Pe 3.8), expressando sua convicção de que a visão de Deus sobre o tempo é diferente da nossa. Dizemos que Ele está além do tempo e do espaço. Para nós, a história humana é uma seqüência de quadros fixos, apresentados um após outro, como um filme. Mas Deus vê o filme inteiro de uma só vez. Embora os cristãos repitam esta crença e quase todos os teólogos, desde Agostinho, tenham-se ocupado dela, poucos a conseguem entender por completo.

    Aparece a física moderna. Hoje nos ensinam que o tempo depende do movimento e da posição relativa do observador. Tomemos um exemplo bem primitivo. Olhando para o céu, às 15h 12min, vejo uma estrela brilhante, o sol, que paira no espaço a uma distância de cerca de 150 milhões de quilômetros. Na verdade, a luz que vejo partiu da estrela há 500 segundos, e viajou à velocidade de 300.000km/s, embora eu não me dê conta de estar enxergando o resultado do que aconteceu no astro às 15h 04min (horário da Terra). Se o sol subitamente desaparecesse em face de um ataque furtivo de um buraco-negro voraz, eu só saberia oito minutos depois, quando o céu ficaria escuro e eu gritaria:
- O sol foi embora! - e me prepararia para a extinção da vida na Terra.

    Imagine agora uma pessoa muito grande, quero dizer, muito grande mesmo, cuja abertura entre os pés medisse, digamos, 150 milhões de quilômetros. Esta pessoa põe o pé esquerdo na Terra e o direito, com um sapato de amianto, no sol. Subitamente, bate o pé direito. Imediatamente, as labaredas solares espalham-se em todas as direções e o sol expele gases. Oito minutos depois eu, aqui na Terra, percebo a mudança dramática do sol.

    Mas estou preso na Terra. A pessoa imensa existe parcialmente aqui e parcialmente no sol, sua consciência engloba os dois lugares. Embora parte de seu ser esteja na Terra, tem pleno conhecimento  do movimento do pé direito oito minutos antes de todas as outras pessoas na terra. Pergunta-se então, o que é o tempo para esta pessoa imensa? Depende da perspectiva. Faça um esforço mental ainda maior e imagine um Ser tão grande quanto o universo, que existe ao mesmo tempo no planeta Terra e numa galáxia a milhões de anos-luz de distância. Se uma estrela explode nesta galáxia distante, o Ser sabe no mesmo instante, e mesmo assim ainda verá o evento na Terra, milhões de anos depois, como se tivesse acontecido naquele instante. Aliás, muitas estrelas que vemos à noite podem ter se extinguido ou terem sido engolidas por buracos-negros, mas a sua luz continua chegando até o nosso planeta, mesmo que fisicamente elas não existam mais.
A analogia que fiz uso não é exata, porque tolhe este Ser no espaço, embora o liberte do tempo. Mas pode nos dar uma idéia quanto à perspectiva limitada do conceito de tempo adotado em nosso planeta, no qual se afirma que "primeiro acontece A e depois B".

    Deus, acima tanto do tempo quanto do espaço, pode ver o que acontece na Terra de um modo que só nos cabe imaginar. Esta linha de pensamento joga luz sobre debates muito antigos sobre a onisciência, presciência, livre-arbítrio e determinismo. Um termo como "presciência" só tem sentido quando considerado do nosso ponto de vista limitado à Terra, pois presume que o tempo é uma seqüência de fatos, um após outro. Do ponto de vista de Deus, que engloba todo o universo de uma só vez, o significado da palavra é consideravelmente diverso. Falando com precisão, Deus não "prevê" os acontecimentos. Ele simplesmente os , em um presente eterno.

    A eternidade é apenas uma das muitas doutrinas que recebem luz através dos avanços da física moderna. Os novos teólogos poderiam tirar proveito se estudassem a teoria dos universos paralelos, usando-a para investigar o problema do mal. A teoria da interconexão de toda a matéria e energia seria útil para abordar as palavras bíblicas sobre a união entre os que crêem. A teoria que trata de como a consciência afeta a matéria poderia trazer esclarecimentos sobre o poder da oração. A maioria de nós carece de um conhecimento qualificado que nos oriente na compreensão de muitos destes mistérios. Os zen budistas aproveitaram a oportunidade e publicaram obras sobre como suas crenças se adaptam aos conceitos contemporâneos da física. Espero que repensemos nossos conceitos, muitos dos quais, ainda medievais. A fé religiosa, assim como a matéria, enfrenta constantemente o perigo de ser engolida por um buraco-negro.

Extraído da revista Cristianity Today.

domingo, 10 de junho de 2012

O FEMINISMO É A IDEIA RADICAL DE QUE AS MULHERES SÃO GENTE!




                       Não, não é possível retroceder.


"Trabalharam nas fábricas insalubres e superlotadas. Fizeram greves tão intensas que explodiram a Rússia em 8 de março de 1917, abrindo espaço para os bolcheviques. Morreram queimadas. Tornaram-se médicas, advogadas, jornalistas, presidentes, dirigentes de empresas, professoras universitárias. Pilotaram avião, caminhão e fogão. Atravessaram o Canal da Mancha a nado, foram à Lua, dirigiram um carro na Arábia Saudita. Se libertaram sexualmente, casaram-se com outras mulheres de papel passado. Escreveram, publicaram, filmaram. Viraram líderes espirituais de aldeia na Amazônia. Fizeram tribos africanas abandonarem a horrenda prática da mutilação genital. Reescreveram a história dizendo que sim, éramos protagonistas, mesmo que não tenhamos assinado tratados de guerra e paz.



Mas onde é preciso avançar?


A cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas no Brasil. Os estupros e os abusos são crimes que, em geral, ocorrem dentro das próprias casas. Ganhamos salários menores que os dos homens para ocuparmos os mesmos cargos – agora isso pode ser motivo de multa dentro da mesma empresa, menos mal. Ouvimos piadas machistas o tempo todo. Somos obrigadas a aturar cantadas nas ruas com medo de uma violência ainda maior. Não exercemos plenamente nossos direitos reprodutivos. Sofremos cotidianamente com a noção de que somos propriedade do homem e, portanto, podemos ser usadas a seu bel-prazer. Ainda somos vendidas junto com cerveja e tudo mais que o mercado quiser. Somos consideradas galinhas ou putas quando exploramos nossa sexualidade.

Por que continuamos em uma realidade tão inóspita? A resposta é óbvia e simples: porque a sociedade segue sendo machista, apesar de todos os nossos avanços. Uma cultura tão antiga, que perdura há milhares de anos, não muda de uma hora para a outra ou de um século para o outro.

É justamente por isso que, assim como o machismo, o feminismo continua vivo e atuante! O termo pode parecer surrado e ultrapassado, mas só para quem comprou o discurso de que já chegamos em nosso limite. E não, não chegamos ao topo. É preciso sermos feministas, todos os dias e todas as horas.

A humanidade (e por que não outro nome? E se chamássemos humanidade, feminidade, transgeneridade, pluralidade?) ainda não experimentou viver em liberdade e igualdade, sem discriminações. E tampouco chegará lá se não nos mobilizarmos, não atuarmos, não transgredirmos."